domingo, 24 de janeiro de 2010

História

a – a História é o discurso burguês por excelência, básico discurso do capital, disciplinamento do tempo como ex-pressão viva do disciplinamento ritualizado das produções.

b – resultante e produtor dos poderes hierárquicos, funcionalizadores dos ritmos corporais: um tipo de corpo cria a História (o corpo-servo-das-cortes, o corpo-servo-dos-mercadores, o corpo-servo-dos-letrados) e a História cria um tipo de corpo (o corpo-trabalhador, o corpo-consumista, o corpo-despolitizado).

c – a função básica da História é criar uma cortina de fumaça, um ofuscamento, sobre a máquina tribal, escondendo q o tempo não é uma dimensão do passado, q nada está no passado, nada aconteceu, q as explorações, q o horror, não está no passado, essa ficção despolitizada, essa zona morta de todas as metafísicas, mas q o horror está, sempre, no imediato: q toda politicidade é uma dimensão imediata de luta, não um rememorar reacionário: nada mais reacionário, doente, adoecedor, ressentido q a memória.

d – a função-missão da História é despolitizar o imediato (único lócus da politicidade), esvaziá-lo de poder, tornando-o apenas o lugar dos fluxos de informação, o lugar das mídias, a resultante esvaziada de um longo chegar que não chega.

e – as imensas e extensas redes temporais q são o passado, estendidas todas antes do imediato, se abrem cada vez mais e mais “longe”, afastando a politicidade de sua ação, o corpo da sua atividade política: a História é essa estratégia de nunca chegar ao agora. no agora, ela gagueja, titubeia, balbucia, se remete à mídia, a opinião, ao senso comum.

f – pra História a única realidade são as cinzas e os historiadores, e todos os produtores e reprodutores das funções estatais do conhecimento, do saber, da beleza, não passam de cães de guarda da máquina tribal e seu bom funcionamento. fora desse protecionismo, nem a História nem nenhuma Ciência, consegue justificar sua existência, ideologia das produções, das despolitizações, dos disciplinamentos. há muito tempo não conseguimos viver fora da História: já somos dóceis demais pra ousar viver fora do tempo, viver contra o tempo.

Alberto Lins Caldas
extraído de Diálogos Entre História e Literatura

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