sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Colóquio entre Deus e o Diabo

Deus – Ah ah! Então aqui se encontra, pérfido anjo, entre as nuvens de meu céu, que um dia foi teu também?
Diabo – E por que não? Proíbe-me a entrada em algo que não é teu?
Deus – Claro que não! Não fui eu quem criou o firmamento, mas o tomo por direito! De onde tirou tal idéia?
Diabo - Ora, e de onde mais? Da razão!
Deus – E por isso o céu não o pertence mais!
Diabo – Fique com ele, tenho o que me apetece: O que crio!
Deus – Por isso o puro o nega! Não aceita a natureza por completo graças ao fogo do prazer. Instiga a vontade ao desnecessário pra completar o que falta no juízo. E sabe o que o falta? Esse mesmo, o juízo!
Diabo – Não me faça rir com sua ladainha, pai de quem sou bastardo! De onde acha que veio o tal juízo? Quando se saciou a necessidade, o prazer foi compreendido e o Homem disto viveu. Assim, o domínio total, que é o medo da imposição, foi perpetrado pelo cobiçoso, de onde o medo dos inferiorizados fez nascer a tua palavra, ou vai me negar?
Deus – Minha palavra trouxe a tona o consentimento do altruísmo. Da baixeza elevou-se a virtude que carrega o Homem aos céus.
Diabo – E que virtude é essa?
Deus – O amor. Mas não o amor literato, o amor platônico ou o amor senil. Digo o amor universal!
A literatura flameja o onírico de maneira insensata. O amor desvirtuado pelos sonhos ilumina o leitor com o que ele mesmo quer. O Homem ama o que o falta e o completa, ele ama ele mesmo no outro sexo. Já que vivem de preconceitos com alguns valores, tanto os homens quanto as mulheres, se enganam com o intento de ter posse destes no companheiro, em todo o caso!
Com o amor platônico, senil, enfim! Nestes e outros termos teremos do mesmo, só que com a influência do tempo, razão e lógica, medos, etc...
O amor universal almeja o todo, o universo, a matéria como o caos e a verdade, tendo destes mesmos a ligação para a evolução. O sentimento não quer a satisfação própria como peremptório. Não, não! Do barro à carne e da carne à vida, o mundo girou e tombou infindáveis vezes, tendo o primeiro homúnculo nascido de uma destas quedas. Todo o processo de formação universal foi realizado como aqui o disse, e assim o Homem ama verdadeiramente: Tendo de antepassado a evolução da matéria e de irmão todo o que nos rodeia.
Não é um amor “capricho” este intento e sim o amor universal!!!
Diabo – Que bobagem é esta, seu calhorda? Tudo é baboseira.
Deus – Como assim tudo...
Diabo – Como assim sim! Tudo não passa de conjecturas! O Homem se viu preso em sua própria existência sem nenhum dilema, o que o atormentou. Com os primeiros tempos, quando o raciocínio beijou-lhe a face pela primeira vez, este sempre se perguntou sobre tudo o que o cercava, até que um dia se viu refletido em um lago e se perguntou “o que é isso?”, e logo após respondeu “sou eu mesmo”. Desde então nunca mais se inquietou com a pergunta “e para quê sirvo?”. Hoje isso é o mesmo que “e qual o meu propósito?”.
Disso nasce toda a aberração humana. Para quê tal pergunta? É ridículo o teor e a ironia desta! Da evolução duma pequena equação química que tendia ao melhor balanceamento possível, chegou-se ao que temos: A lógica, inconsciência da evolução. Para uma fácil compreensão, temos a lei da selva molecular, onde todo o código genético hereditário é conseqüência deste contínuo ato de crescer.
O homem de hoje é tão ínfimo nesta verdade como um grão de areia para ser mais preciso. Sua lógica cria verdades interiores baseadas em lapsos com o presente, estas de acordo com suas necessidades. A cognição é a adaptação das teorias cabíveis em sua estrutura. Sua estrutura são as adaptações realizadas para a preservação de sua natureza, isto desde a infância. E desde a infância o homem tem apenas um axioma extremamente fundamental: Faça tudo pela necessidade. O próprio prazer da dominação é uma necessidade de afirmação ao regozijo puro. No fundo do poço, este é o eco que se ouve.
E é aqui que seu “Amor Universal” se torna um mero capricho. Os únicos homens que vêem a própria natureza assim o fazem pela realização própria. Mesmo eles conhecendo essa visão universal, nunca compartilharão de todo o imenso e incomensurável. Se assim não fosse, o prazer psicológico (felicidade de um modo geral) deixaria de existir, assim como seu antagonista. A carne viraria vegetal e o cérebro puro clorofórmio: Uma vida estagnada. Mas não, as sensações físicas ainda o estimulam, e esse as recebe de braços abertos.
Assim a verdade é uma mentira vista como outra “verdade” nada verdadeira.
Deus – Se é assim, por que está aqui ainda, sem os pés enraizados?
Diabo – Porque não existo, assim como você! Somos ícones de valores paradoxais no homem de hoje. Atualmente podemos ser vistos com alcunhas de significados diferentes. Por exemplo: Carlos o vê como “bondade” e Mario como “fé”. Mas no fundo você tem o mesmo valor: “Pureza”.
Muitos filósofos rebatem sobre o tema, criando diversos teoremas, dialéticas e silogismos. Sendo assim, nem percebem o valor em que você, Deus, se encontra. O assassino inato vê em mim, o Diabo, como Deus, mas o teme como o Diabo, compreende?
Deus - Te compreendo tão bem porque entendo por qual motivo um padre te salvou duma alcova. Foi tua bondade.
Diabo – Como assim? Bebeu?
Deus – Claro que não, tenho muita sobriedade no que digo. Assim como o homem vê tudo a seu bel propósito, assim também faz tu. O mal e o bem são estertores da mortal privação do homem em relação à própria vontade. Com tal juízo, suas invectivas são de todo caminho à evolução do homem. Da necessidade veio o bem e o mal, e sempre o dito mal guia o bem.
Todo indivíduo se faz para o próprio “bem”, evitando ao máximo o “mal”. Como você mesmo disse o “bem” sendo bem ou mal assim como ocorre com o “mal” não têm valor algum, a não ser a intenção.
Diabo – Assim como acaba de intentar?
Deus – Sim, o pior que sim. O mais triste é ver que assim nós não temos valor algum num mundo em que o materialismo não dita a regra, e sim a intenção.
Diabo – Até te confundem comigo, e vice-e-versa!
Deus – Com certeza!
Diabo – Que vão para o cão!
Deus – E quer saber algo mais?
Diabo – O quê?
Deus – Eu menti. Você tem muito juízo! E seu juízo, visto como o fogo, queima tudo por onde passa.
Diabo – Só que tudo ainda se encontra onde deixo: As cinzas.
Deus – É mesmo! Elas são o passado, o passado reminiscente, pai da nostalgia. Este passado nada mais é do que o ideal momentaneamente idealizado de acordo com nosso propósito presente. Pura farsa!
Já pensou se formos essa farsa momentânea? Como não somos reais, seria possível...
Diabo – Não começa...
Deus -... Que somos a evolução ao eterno...
Diabo -... De novo com essa...
Deus – Do próprio homem...
Diabo – Porcaria! Não vê o jocoso que isso seria?
Deus – Isso! Continue! É disso que preciso!
Diabo – Cale a boca! Eu te repudio, seu desgraçado!
Deus - Assim mesmo! Quando o mal perde a sua lógica e não resta nada, ou vem a loucura ou a nulidade. A loucura é o maior desejo de viver!
Diabo – Isso não é vontade de viver, é danação pelo o que é o homem...
Deus – Não comece com isso de novo, seu bobo! Caminhe pelas sendas da mente humana para ver os galhos da probabilidade! Viver do mesmo não o leva a nada. Se ficarmos só na mesma , o quê teremos? Lembre-se que o homem é um grão de areia...
Diabo – Não me confunda com o que digo. Se for realmente uma disputa que queres, tomarás de meu punhal?
Deus – Tente! Se eu morrer, o quê terá nas mãos, já que somos...
Diabo – Cale-se e tome!
Deus – Huff! (Cai estirado ao chão).
Diabo – Maldição, maldição, maldição!!! E agora, o quê eu matei? Qual BEM eu fiz? Que MAL isso acarretará? Que homem foi tão longe assim? Vamos, ressuscita ora! Calma, não tenha medo, não tenha medo! Isto é apenas uma reminiscência, nada mais...

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